- Monocultivo: Um assassinato ao Pampa
As ameaças que circundam o Pampa são muitas, mas nenhuma delas, nos dias atuais, é tão preocupante como a expansão das plantações de árvores exóticas (eucalipto, pinus e acácia-negra) que vêm ocorrendo na região. Como poderemos afirmar que a substituição de uma vegetação campestre, rasa e de baixa estatura, por fileiras e fileiras de árvores de até 30 metros de altura, não acarretará em impactos severos ao ambiente pampeano?
Em 2001, o Rio Grande do Sul possuía uma área ocupada por monocultivos de eucalipto, pinus e acácia-negra de aproximadamente 400 mil hectares. Atualmente, as estimativas indicam que, nos próximos anos, mais um milhão de hectares de terras gaúchas, em sua maior parte formadas por campos, serão convertidas em um milhão de hectares de autênticos “desertos verdes”. Isto para possibilitar a instalação, até 2010, de pelo menos três grandes fábricas de celulose no território sul-riograndense.
Com a justificativa de “desenvolver” a economicamente retraída Metade Sul do estado, planeja-se a inauguração, em poucos anos, de três grandes fábricas de celulose nesta região: uma da Votorantim Celulose e Papel, outra da sueco-finlandesa Stora Enso e mais a ampliação da atual fábrica da Aracruz, mesmo existindo inúmeros alertas, por parte de ambientalistas e cientistas, sobre os impactos socio-ambientais negativos que as plantações de árvores podem acarretar ao Pampa.
As conseqüências da substituição da vegetação do Pampa serão sentidas a curto, médio e longo prazo, e entre elas podemos citar as principais:
1º - Sombreamento agressivo: relacionado ao grande porte das árvores que servem de matéria-prima para a produção de celulose, considerando que a maioria das plantas do bioma campestre são heliófitas (necessitam de abundante luminosidade), não sendo resistentes ao sombreamento.
2º - Potencial alelopático negativo: ao se levar em conta o forte potencial alelopático negativo, característico das espécies do gênero Eucalyptus, verifica-se que muitas espécies de plantas possuem seu desenvolvimento retardado e prejudicado pela simples presença de raízes ou folhas desta espécie no solo ao seu redor. Esta incompatibilidade natural existente entre plantas campestres e eucaliptos tende também a diminuir a rica biodiversidade do pampa.
3º - Invasão de ecossistemas: o pinus é considerado uma espécie invasora em potencial, capaz de ocupar o espaço de espécies nativas e produzir alterações nos processos ecológicos naturais.
4º - Efeitos sobre os recursos hídricos: aqui está uma das mais sérias conseqüências que as plantações de árvores em larga escala podem ocasionar. Inúmeros estudos científicos já atestaram o grande consumo de água que árvores como eucaliptos e pinus apresentam. No Pampa argentino, fronteiriço ao Pampa gaúcho, pesquisas recentes, indicaram que as extensas plantações de eucalipto desta região resultaram: na redução de 52% do fluxo da água dos rios, na seca de 13% dos rios, córregos e arroios e no aumento da acidez dos solos.
Não deve ser surpresa que o consumo de água de uma árvore gigante seja imensamente superior a de ervas campestres com alguns centímetros de altura, pois a evapotranspiração real (o consumo de água por árvores) é muito mais elevado que a do campo natural, presumidamente em todos os meses do ano, e não somente no verão. É justamente esta defasagem entre o consumo de água e as precipitações de várias regiões pampeanas que acarretaria na diminuição das águas dos lençóis freáticos, dos rios e arroios, afetando a água disponível para os demais plantios e para o abastecimento da população local. Além disto, este impacto pode afetar até mesmo o Aqüífero Guarani, cujo manancial de água se estende sob boa parte do território pampeano.
5º - Desaparecimento de espécies: como um efeito em cadeia, a menor disponibilidade de água nos rios, arroios e córregos tende a favorecer o desaparecimento de mais espécies de plantas e, estes dois fatores aliados conduzem à redução da população de animais e insetos. Ou seja, a introdução de monoculturas de árvores em ecossistemas campestres também acaba por alterar as cadeias alimentares existentes, ocasionando mudanças na adequação de habitat para as espécies animais nativas, que acabam tendo sua sobrevivência e reprodução colocadas em risco. Das 250 espécies de animais ameaçados de extinção no RS, pelo menos 26 delas estão diretamente relacionadas com a expansão das áreas com plantações de árvores sobre os campos. Animais como a águia chilena, o lobo guará, o veado campeiro, o gato palheiro e o cardeal amarelo, que habitam nossos campos há séculos, caminham rumo à sua extinção.
6º - Poluição ambiental: aqui se faz necessária uma pequena abordagem sobre os problemas geralmente relacionados ao funcionamento de grandes fábricas de celulose. No beneficiamento da celulose, há uma grande demanda por água, principalmente no processo de cozimento da madeira com soda cáustica, a fim de se separar a celulose da lignina. Após, é feito o processo de branqueamento da celulose, para a obtenção de uma polpa branqueada, que vai ser a matéria-prima de um papel branco e alvo.
Entretanto, é justamente no processo de branqueamento, que ocorre o uso do dióxido de cloro, o qual poderá vir a ser fonte de dioxinas encontradas nas águas residuais das fábricas. A dioxina, composto químico resultante de processos térmicos que envolvem produtos orgânicos (como a madeira) em presença de cloro, é conhecida como um dos mais potentes carcinogênicos existentes no mundo atual.
Finalizando, cabe ainda salientar que várias destas premissas se encontram presentes na abordagem agroecológica da agricultura, onde o enfoque central é a “aplicação dos princípios e conceitos da Ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis”. Ao se trabalhar na criação de agroecossistemas sustentáveis, o que se busca na verdade é construir um sistema agrícola com características semelhantes às de ecossistemas naturais, mas mantendo uma satisfatória produção para ser colhida.
O desenvolvimento de uma agricultura sustentável, que gere produção, trabalho e renda ao agricultor, mas respeitando o equilíbrio dos ecossistemas e primando pela conservação dos recursos naturais, é a verdadeira possibilidade de melhorar o nível de vida das populações pampeanas, sem colocar em risco a existência do próprio Pampa.
Neste sentido, faz-se necessário construir um modelo de desenvolvimento onde, prioritariamente, seja respeitada a conformação tipicamente campestre deste ecossistema.
Em 2001, o Rio Grande do Sul possuía uma área ocupada por monocultivos de eucalipto, pinus e acácia-negra de aproximadamente 400 mil hectares. Atualmente, as estimativas indicam que, nos próximos anos, mais um milhão de hectares de terras gaúchas, em sua maior parte formadas por campos, serão convertidas em um milhão de hectares de autênticos “desertos verdes”. Isto para possibilitar a instalação, até 2010, de pelo menos três grandes fábricas de celulose no território sul-riograndense.
Com a justificativa de “desenvolver” a economicamente retraída Metade Sul do estado, planeja-se a inauguração, em poucos anos, de três grandes fábricas de celulose nesta região: uma da Votorantim Celulose e Papel, outra da sueco-finlandesa Stora Enso e mais a ampliação da atual fábrica da Aracruz, mesmo existindo inúmeros alertas, por parte de ambientalistas e cientistas, sobre os impactos socio-ambientais negativos que as plantações de árvores podem acarretar ao Pampa.
As conseqüências da substituição da vegetação do Pampa serão sentidas a curto, médio e longo prazo, e entre elas podemos citar as principais:
1º - Sombreamento agressivo: relacionado ao grande porte das árvores que servem de matéria-prima para a produção de celulose, considerando que a maioria das plantas do bioma campestre são heliófitas (necessitam de abundante luminosidade), não sendo resistentes ao sombreamento.
2º - Potencial alelopático negativo: ao se levar em conta o forte potencial alelopático negativo, característico das espécies do gênero Eucalyptus, verifica-se que muitas espécies de plantas possuem seu desenvolvimento retardado e prejudicado pela simples presença de raízes ou folhas desta espécie no solo ao seu redor. Esta incompatibilidade natural existente entre plantas campestres e eucaliptos tende também a diminuir a rica biodiversidade do pampa.
3º - Invasão de ecossistemas: o pinus é considerado uma espécie invasora em potencial, capaz de ocupar o espaço de espécies nativas e produzir alterações nos processos ecológicos naturais.
4º - Efeitos sobre os recursos hídricos: aqui está uma das mais sérias conseqüências que as plantações de árvores em larga escala podem ocasionar. Inúmeros estudos científicos já atestaram o grande consumo de água que árvores como eucaliptos e pinus apresentam. No Pampa argentino, fronteiriço ao Pampa gaúcho, pesquisas recentes, indicaram que as extensas plantações de eucalipto desta região resultaram: na redução de 52% do fluxo da água dos rios, na seca de 13% dos rios, córregos e arroios e no aumento da acidez dos solos.
Não deve ser surpresa que o consumo de água de uma árvore gigante seja imensamente superior a de ervas campestres com alguns centímetros de altura, pois a evapotranspiração real (o consumo de água por árvores) é muito mais elevado que a do campo natural, presumidamente em todos os meses do ano, e não somente no verão. É justamente esta defasagem entre o consumo de água e as precipitações de várias regiões pampeanas que acarretaria na diminuição das águas dos lençóis freáticos, dos rios e arroios, afetando a água disponível para os demais plantios e para o abastecimento da população local. Além disto, este impacto pode afetar até mesmo o Aqüífero Guarani, cujo manancial de água se estende sob boa parte do território pampeano.
5º - Desaparecimento de espécies: como um efeito em cadeia, a menor disponibilidade de água nos rios, arroios e córregos tende a favorecer o desaparecimento de mais espécies de plantas e, estes dois fatores aliados conduzem à redução da população de animais e insetos. Ou seja, a introdução de monoculturas de árvores em ecossistemas campestres também acaba por alterar as cadeias alimentares existentes, ocasionando mudanças na adequação de habitat para as espécies animais nativas, que acabam tendo sua sobrevivência e reprodução colocadas em risco. Das 250 espécies de animais ameaçados de extinção no RS, pelo menos 26 delas estão diretamente relacionadas com a expansão das áreas com plantações de árvores sobre os campos. Animais como a águia chilena, o lobo guará, o veado campeiro, o gato palheiro e o cardeal amarelo, que habitam nossos campos há séculos, caminham rumo à sua extinção.
6º - Poluição ambiental: aqui se faz necessária uma pequena abordagem sobre os problemas geralmente relacionados ao funcionamento de grandes fábricas de celulose. No beneficiamento da celulose, há uma grande demanda por água, principalmente no processo de cozimento da madeira com soda cáustica, a fim de se separar a celulose da lignina. Após, é feito o processo de branqueamento da celulose, para a obtenção de uma polpa branqueada, que vai ser a matéria-prima de um papel branco e alvo.
Entretanto, é justamente no processo de branqueamento, que ocorre o uso do dióxido de cloro, o qual poderá vir a ser fonte de dioxinas encontradas nas águas residuais das fábricas. A dioxina, composto químico resultante de processos térmicos que envolvem produtos orgânicos (como a madeira) em presença de cloro, é conhecida como um dos mais potentes carcinogênicos existentes no mundo atual.
Finalizando, cabe ainda salientar que várias destas premissas se encontram presentes na abordagem agroecológica da agricultura, onde o enfoque central é a “aplicação dos princípios e conceitos da Ecologia no manejo e desenho de agroecossistemas sustentáveis”. Ao se trabalhar na criação de agroecossistemas sustentáveis, o que se busca na verdade é construir um sistema agrícola com características semelhantes às de ecossistemas naturais, mas mantendo uma satisfatória produção para ser colhida.
O desenvolvimento de uma agricultura sustentável, que gere produção, trabalho e renda ao agricultor, mas respeitando o equilíbrio dos ecossistemas e primando pela conservação dos recursos naturais, é a verdadeira possibilidade de melhorar o nível de vida das populações pampeanas, sem colocar em risco a existência do próprio Pampa.
Neste sentido, faz-se necessário construir um modelo de desenvolvimento onde, prioritariamente, seja respeitada a conformação tipicamente campestre deste ecossistema.
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